quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Comédia chamada Floresta d’Enganos


Desconfiado como era, nunca acreditou que o Amor algum dia lhe batesse à porta. Pois mal. Quando ele desceu por aí, atabalhoado, mas cheio de verdade e admiração, e lhe bateu mesmo, duas ou três vezes, ele pensou que fosse engano, ou que fosse para a vizinha, e deixou-o ir, deixou-o ir para nunca mais. Não se levantou da secretária onde estudava e sublinhava, com régua e esquadro, “Neurofisiologia sem lágrimas”, do MacKay. Mais tarde, no fim de tudo, saberá, com aquela sabedoria desiludida e resignada dos velhos, que era engano: engano dele. Não do Amor. Uma comédia esta puta de vida!