sexta-feira, 31 de março de 2017

Faça da leitura uma causa de vida

“Poderia comprar uma arma e estoirar com os miolos, os meus ou os dos outros, como tantos fazem nesta História da Humanidade. Em vez disso, toda a minha vida estoirei dinheiro em livros. Há malas que vêm por bem.”
Delfim Pinto Ariednab
(Areosa, Viana do Castelo, 1910 – Bonfim, Porto – 1998)

Na imagem: cartoon de Cristina Sampaio, achado no site da Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas de Portugal.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Queer in spanish

Ontem, pela primeira vez na vida, neste porto cosmopolita e poliglota, chamaram-me "maricón". Que orgulho ser insultado numa língua tão bonita!

quarta-feira, 22 de março de 2017

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Querido Dijsselbloem, exemplo supremo de trabalho, já que és trabalhista, para não te chamar um nome mais feio, que és tão de esquerda como uma parte íntima do corpo da tua tia, esta terça-feira à noite, talvez causa de tanto pólen e amor no ar neste belo país do sul, estoirei, em Cedofeita (infelizmente, não pude ir a Amesterdão), cinco euros (os que me restavam dos meus biscates) em minis, pois, triste fado, não tenho mulheres. Sorte a minha. Azar o teu. Viva a amizade europeia!

terça-feira, 14 de março de 2017

Um grande vício só com outro grande vício se combate


Os livros, pelo menos para mim, são sempre o melhor vício para combater outros vícios. Não são a salvação da minha vida. São um vício: outros meteram-se na farinha, eu meti-me no pó dos livros. E também sou um pau de virar tripas como qualquer grande drogado: a magreza faz parte da tipologia geral de um viciado. Diz-me a minha Consciência (com maiúscula, porque é um nome próprio), chatinha às vezes, chata como a putaça outras vezes: “Mais vale estoirares tempo e dinheiro com livros do que com outras merdas frívolas, como sexo, drogas e rock 'n' roll”. Ela é chata, está bem de ver, e não gosta de boa música e de boa vida. Nem me orienta no caminho da salvação. Mas é a minha única fiel amiga. Ressaca.

segunda-feira, 13 de março de 2017

O lado positivo das coisas

Quem conheceu o seu pai biológico quando nasceu, nunca poderá saber a felicidade de o conhecer 33 anos depois de ter nascido.

quarta-feira, 8 de março de 2017

The saddest thing to say à flor da pele


Imprecação sobre as piores machistas (falando para as bonecas)


 "On ne naît pas femme : on le devient. Aucun destin biologique, psychique, économique ne définit la figure q ue revêt au sein de la société la femelle humaine ; c'est l'ensemble de la civilisation qui élabore ce produit intermédiaire entre le mâle et le castrat qu'on qualifie de féminin. Seule la médiation d'autrui peut constituer un individu comme un Autre. En tant qu'il existe pour soi, l'enfant ne saurait se saisir comme sexuellement différencié. Chez les filles et les garçons, le corps est d'abord le rayonnement d'une subjectivité, l'instrument qui effectue la compréhension du monde : c'est à travers les yeux, les mains, non par les parties sexuelles qu'ils appréhendent l'univers."

Simone de Beauvoir

Gosto muito de mulheres. Cada vez mais. Em termos de desejo de carácter, do outro-outro, até, cada vez sou mais "hetero". Por que é que os melhores amigos dos "gays" são mulheres? Os homens não são de confiar… Concordo com elas: a maioria dos homens são uma merda (homo homini lupus)
Há dias até descobri - como os meus dias são de descoberta permanente! - que não sou "activo", nem "passivo", excepto ipsis verbis para o Ministério das Finanças, imagine-se, sou "gouine", ou seja, lésbica! Cada vez gosto mais de mulheres.
Mas há certas mulheres que descem abaixo de homem e me fodem a cabeça toda.
Reparo tristemente, e enervo-me à flor da pele com isto, como qualquer animal humano, que, quando uso as minhas calças cor de salmão (não uso rosa choque, caralho, não sou assim tão homem!), os olhares mais reprovadores, aos quais não sou indiferente, porque gosto muito de mulheres, me vêm, nesta cidade (neste mundo?), falsamente cosmopolita, me vêm de mulheres, dos 8 (sim, minhas deusas!, tanta criancinha já com tanto preconceito na cachimónia sobre o que é "ser homem" e "ser mulher") aos 80 (as de 80 até, curiosamente, muitas vezes são as mais tolerantes face à diferença). Enfim, sou muito homem nisto – enervo-me, impreco, escrevo como um touro enraivecido, à noite, como uma mulher, tenho de beber um chá de cidreira para acalmar.
Reparo tristemente, a 8 de março de 2017, que, assim como a mais macabra homofobia provém dos próprios “homossexuais”, o pior machismo, serôdio, cinzento, fascizóide, uniformizador, vem de muitas mulheres.
Tristemente. Reparo, tristemente, e não esqueço, e reajo à flor da pele, que muitas mulheres votaram, em 2016, num homem como Trump. Fico fodido, impreco, escrevo furiosamente, pela noite dentro.
Não uso rosa choque, caralho!, como deveria usar se fosse um homem de verdade.


P.S. Ouço Legendary Tiger Man, a quem roubei o título deste texto, para não me matar com os nervos.