sábado, 23 de dezembro de 2017

Postal de Natal


Vê-se com escândalo - aponta-se-lhe o dedo - quem passa o Natal sozinho, não se sabendo o mais das vezes que pode estar plenamente acompanhado, mas não se vê - ou se julga - o escândalo de quem passa o Natal numa grande família e está plenamente só.

Página do Diário de 23.12.2017

P.S. Plenamente acompanhados, desejo-vos um Feliz Natal, grandes pervertidos!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Chiu (contributo para o estudo da pedagogia do oral)


Os professores são os profissionais que, em democracia, passam mais tempo de vida a mandar calar.

Na imagem: sala de aula em escola pública, cerca de 1900. Documento achado aqui.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O pior capitalista do mundo



Aquilo de que mais gosto na vida e obra de Belmiro de Azevedo é aquilo em que ele mais perdeu dinheiro... e, já agora, eu também: jornais e revistas. Deus escreve direito por linhas tortas.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

A involução dos tempos

Antes, ninguém lia e escrevia. Hoje, com as redes (anti)-sociais, toda a gente escreve, embora a esmagadora maioria - vê-se à fartazana por aí em tantos lindos posts com amanheceres, crepúsculos e suásticas - continue a não ler a ponta de um corno. No entanto, continuo um optimista incorrigível. Não deixo de acreditar na pedagogia da leitura em estreita complementaridade com a pedagogia da escrita.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Queer as folk

Como posso ser gay se quase nenhum homem me interessa - mil vezes uma boa mulherzinha a milhares dos duques broncos que me calham na rifa - e os pouquíssimos que me interessariam estão todos bastante bem ocupados e, por conseguinte, jamais me podem interessar? Gostava de saber, Criador, acredita!

sábado, 2 de setembro de 2017

Os extremos

Tenho aprendido isto na rua, em casa, na cidade, no mundo, nos ‘restaurantes gourmets’, nas ‘sopas dos pobres’, nas 'business schools', nas 'casas do gaiato': quer a extrema riqueza, quer a extrema pobreza, me podem tornar um ser grandioso, ou um miserável asqueroso.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Comédia chamada Floresta d’Enganos


Desconfiado como era, nunca acreditou que o Amor algum dia lhe batesse à porta. Pois mal. Quando ele desceu por aí, atabalhoado, mas cheio de verdade e admiração, e lhe bateu mesmo, duas ou três vezes, ele pensou que fosse engano, ou que fosse para a vizinha, e deixou-o ir, deixou-o ir para nunca mais. Não se levantou da secretária onde estudava e sublinhava, com régua e esquadro, “Neurofisiologia sem lágrimas”, do MacKay. Mais tarde, no fim de tudo, saberá, com aquela sabedoria desiludida e resignada dos velhos, que era engano: engano dele. Não do Amor. Uma comédia esta puta de vida!

sábado, 15 de julho de 2017

Deitar o fora no dentro

Tenho muitas coisas. Penso como homem contemporâneo: devo sofrer um ataque minimalista e deitá-las fora. Penso uma 2.ª vez como homem barroco: devo sofrer um ataque maximalista e deitar o fora dentro das minhas muitas coisas.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Googlar a mãe

O menino abandonado entra no cyber centre: vai procurar a mãe no Google. Procura-a, procura-a, procura-a. Maria Peixoto Sousa, Maria Sousa, Maria Peixoto. Não a encontra. Muitos nomes iguais, mas nenhum desses nomes era a sua mãe nomeada. 'Então, e o Google não sabe tudo, caralho?' Diz um palavrão, deixa de ser menino. Sai do cyber centre. Toda a cidade agora, apenas, para procurar a mãe.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Entre aspas, filhote


- Estás a olhar, filhote?
- Tu também estavas a olhar.
- Já miquei, desculpa, mas já miquei que és gay, gay entre aspas, desculpa.
- Realmente sou gay entre aspas pois é uma palavra inglesa. Em português, sou coisas bem piores. Como filhote.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Oração dos infiéis

Um dos meus barbeiros (para que conste, eu tenho dois barbeiros na vida), em jeito de conselho, disse-me há tempos que devia ir contar "a minha história" (que fique registado: tenho uma história) à Sra. Dra. Júlia Pinheiro. "Sabe quem o pode ajudar?..." A ele, ao meu barbeiro suplente, conto qse td: bem vistas as coisas, sentado naquele trono, tenho uma navalha cheia de apetite juntinho ao pescoço. "Olhe que ela, de certeza, o ajudava", por exemplo a encontrar o meu irmão Artur ou outros irmãos e irmãs que eventualmente tenha pelas Áfricas deste mundo. "Ela ajuda muita gente... ela tem ajudado muita gente". Num dos meus mais simpáticos dias, disse ao meu padre de capa e espada que iria pensar nisso. Hoje, depois de tanto circo à volta das histórias de tanta gente inocente, exibido da maneira mais ignara e nojenta pela dita sra. dra. e outras que tais, solto-me a fera: Deus Nosso Senhor me livre da ajuda da televisão! O que queria às vezes era matá-la à machadada - ao aparelho-abutre, não à mencionada sra. dra. Pinheiro (coitada da mulher!), já que uma navalha não chega para tão nobre e meritório feito. Enfim, sempre fui um pobre e mal agradecido!

Um espanto

Todos os dias me espanta que gente que trabalha em bibliotecas, desde as escolares às municipais, e livrarias – muitas vezes gente lá colocada (o meu corrector automático escreveu - desta vez bem - colada) pela nobre lei da cunha - espanta-me, digo, ver gente aí pasmada todo o santo dia à espera de picar o ponto sem gostar de livros, e até – embora não o possa assegurar cientificamente – sem tem pegado num livro como se pega num filho ou num amante… para o ler, para o amar. Mas, enfim, como me dizem todos os dias os livros, esta vida é um espanto. Haja saúde!

10 milhões de Ministros da Administração Interna

O autocarro, por estes dias, vai cheio, vai cheio de estupendos especialistas em incêndios florestais e organização do território, para já não falar agora nos experts em turismo, terrorismo internacional, AO 90 e História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

quinta-feira, 11 de maio de 2017

As bundas no bonde (declaração de interesses)


Meninos e meninas, uso o Feice e as demais redes anti-sociais para ler e escrever, escrever e ler. Para engatar e ser engatado, uso os transportes públicos, nomeadamente o eléctrico 22 que sobe para a Batalha. Obrigado. Amo-vos.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Envelhecimento prematuro


Na viragem do século XX para o século XXI, a juventude passou do “odeio-me e quero morrer” cobainiano para o “adoro-me e quero viver para sempre” de qualquer guru ginasticado que anda por aí de rabo para o ar a mandar bitaites sobre nutrição e auto-estima. Jovens, temos de encontrar um equilíbrio. E, a propósito, acho que estou a ficar um velho chato para vir cá botar conselhos aos novos do milénio. 

Na imagem: Esperando o sucesso, 1882, pintura de Henrique Pousão.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Emmanuel


Antes uma França sexy do que uma França fascista! De resto, sempre preferi o soft core.

Na imagem: Sylvie Kristel em Emmanuelle de Just Jaeckin, 1974.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Mitologias


Ó Pedro, há mitos que comemos e outros que, infelizmente, nunca poderemos comer.

[a partir da obra Os mitos que comemos de Pedro Carvalho]

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Elogio da masturbação

Mais vale só do que mal acompanhado.

['Elogio da masturbação' é um livro de Philippe Brenot, editado em Portugal pela editora Campo das Letras]

terça-feira, 11 de abril de 2017

Do mal o menos, Murakami


- Por estes dias, vou fazer vida de escritor. De manhã à noite, de segunda a domingo, vai ser só como o Murakami, correr, escrever, correr, escrever, correr, escrever, escrivaninha, escrivaninha, escrivaninha, ler, escrever, ler, escrever, ler, escrever, correr, escrever.
- Olha, Murakami, antes escritor do que vadio!

Bom sentido de orientação


Para fazer um “bom” doutoramento, não basta, nem preciso é, ter um “bom” orientador, ou sequer saber bem orientar-se na sintaxe do português, é sim condição sine qua non, no mundo paroquial do ensino superior, ter bom sentido de orientação nos labirínticos compadrios do ‘campus’. Sabendo movimentar-se entre as saias e as calças dos influentes da universidade, no fim, o menino ou a menina será um doutor/a à maneira.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Faça da leitura uma causa de vida

“Poderia comprar uma arma e estoirar com os miolos, os meus ou os dos outros, como tantos fazem nesta História da Humanidade. Em vez disso, toda a minha vida estoirei dinheiro em livros. Há malas que vêm por bem.”
Delfim Pinto Ariednab
(Areosa, Viana do Castelo, 1910 – Bonfim, Porto – 1998)

Na imagem: cartoon de Cristina Sampaio, achado no site da Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas de Portugal.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Queer in spanish

Ontem, pela primeira vez na vida, neste porto cosmopolita e poliglota, chamaram-me "maricón". Que orgulho ser insultado numa língua tão bonita!

quarta-feira, 22 de março de 2017

Anúncio Super Bock Mini


Querido Dijsselbloem, exemplo supremo de trabalho, já que és trabalhista, para não te chamar um nome mais feio, que és tão de esquerda como uma parte íntima do corpo da tua tia, esta terça-feira à noite, talvez causa de tanto pólen e amor no ar neste belo país do sul, estoirei, em Cedofeita (infelizmente, não pude ir a Amesterdão), cinco euros (os que me restavam dos meus biscates) em minis, pois, triste fado, não tenho mulheres. Sorte a minha. Azar o teu. Viva a amizade europeia!

terça-feira, 14 de março de 2017

Um grande vício só com outro grande vício se combate


Os livros, pelo menos para mim, são sempre o melhor vício para combater outros vícios. Não são a salvação da minha vida. São um vício: outros meteram-se na farinha, eu meti-me no pó dos livros. E também sou um pau de virar tripas como qualquer grande drogado: a magreza faz parte da tipologia geral de um viciado. Diz-me a minha Consciência (com maiúscula, porque é um nome próprio), chatinha às vezes, chata como a putaça outras vezes: “Mais vale estoirares tempo e dinheiro com livros do que com outras merdas frívolas, como sexo, drogas e rock 'n' roll”. Ela é chata, está bem de ver, e não gosta de boa música e de boa vida. Nem me orienta no caminho da salvação. Mas é a minha única fiel amiga. Ressaca.

segunda-feira, 13 de março de 2017

O lado positivo das coisas

Quem conheceu o seu pai biológico quando nasceu, nunca poderá saber a felicidade de o conhecer 33 anos depois de ter nascido.

quarta-feira, 8 de março de 2017

The saddest thing to say à flor da pele


Imprecação sobre as piores machistas (falando para as bonecas)


 "On ne naît pas femme : on le devient. Aucun destin biologique, psychique, économique ne définit la figure q ue revêt au sein de la société la femelle humaine ; c'est l'ensemble de la civilisation qui élabore ce produit intermédiaire entre le mâle et le castrat qu'on qualifie de féminin. Seule la médiation d'autrui peut constituer un individu comme un Autre. En tant qu'il existe pour soi, l'enfant ne saurait se saisir comme sexuellement différencié. Chez les filles et les garçons, le corps est d'abord le rayonnement d'une subjectivité, l'instrument qui effectue la compréhension du monde : c'est à travers les yeux, les mains, non par les parties sexuelles qu'ils appréhendent l'univers."

Simone de Beauvoir

Gosto muito de mulheres. Cada vez mais. Em termos de desejo de carácter, do outro-outro, até, cada vez sou mais "hetero". Por que é que os melhores amigos dos "gays" são mulheres? Os homens não são de confiar… Concordo com elas: a maioria dos homens são uma merda (homo homini lupus)
Há dias até descobri - como os meus dias são de descoberta permanente! - que não sou "activo", nem "passivo", excepto ipsis verbis para o Ministério das Finanças, imagine-se, sou "gouine", ou seja, lésbica! Cada vez gosto mais de mulheres.
Mas há certas mulheres que descem abaixo de homem e me fodem a cabeça toda.
Reparo tristemente, e enervo-me à flor da pele com isto, como qualquer animal humano, que, quando uso as minhas calças cor de salmão (não uso rosa choque, caralho, não sou assim tão homem!), os olhares mais reprovadores, aos quais não sou indiferente, porque gosto muito de mulheres, me vêm, nesta cidade (neste mundo?), falsamente cosmopolita, me vêm de mulheres, dos 8 (sim, minhas deusas!, tanta criancinha já com tanto preconceito na cachimónia sobre o que é "ser homem" e "ser mulher") aos 80 (as de 80 até, curiosamente, muitas vezes são as mais tolerantes face à diferença). Enfim, sou muito homem nisto – enervo-me, impreco, escrevo como um touro enraivecido, à noite, como uma mulher, tenho de beber um chá de cidreira para acalmar.
Reparo tristemente, a 8 de março de 2017, que, assim como a mais macabra homofobia provém dos próprios “homossexuais”, o pior machismo, serôdio, cinzento, fascizóide, uniformizador, vem de muitas mulheres.
Tristemente. Reparo, tristemente, e não esqueço, e reajo à flor da pele, que muitas mulheres votaram, em 2016, num homem como Trump. Fico fodido, impreco, escrevo furiosamente, pela noite dentro.
Não uso rosa choque, caralho!, como deveria usar se fosse um homem de verdade.


P.S. Ouço Legendary Tiger Man, a quem roubei o título deste texto, para não me matar com os nervos.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Nota culinária sobre o dia de São Valentim

Disse-me a Helena, que é uma romântica: “Gostei muito da rosa, mas tinha preferido um panado”.

© Miguel Ramalhete Gomes, Facebook, Fevereiro de 2017.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Viagens na minha terra

Quantos pobres são necessários para fazer um turista?

Adaptação de uma questão de João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (Porto, 1799 - Lisboa, 1854) colocada na obra maior da língua portuguesa Viagens da minha terra.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

São Valentim chocolateiro

Vende-se muito chocolate por estes dias. Compram-no os que têm namorado e os que, por falta de afecto, nem sequer o de Sua Eminência o Presidente da República, coitados!, vão passar a noite de 14 de Fevereiro a emborcar sozinhos chocolate e vinho tinto alentejano. Come chocolates, pequeno. Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Do direito universal à sexualidade

Sexo não é técnica, não é arte, não é estilo, não é definição, não é tese académica, não é decoração de interiores para agradar aos amigos. Sexo é instinto, é selvajaria, é humanidade, é pureza, é poesia.